A metafísica da música na filosofia de Schopenhauer com possíveis aproximações ao pensamento tradicional indiano Mandukya Upanisad e suas referências ao mantra Om.

TÓPICOS ESPECIAIS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA II - 2° Semestre / 2019 - UFPR

Trechos relevantes: 

O trabalho aqui exposto falará sobre a metafísica da música, utilizando os escritos de Arthur Schopenhauer, principalmente o parágrafo 52 do livro O Mundo como vontade e como representação, da primeira edição, e o capítulo 39, da segunda edição. Farei também, uma aproximação ao pensamento tradicional indiano chamado Upanisad, essencialmente aos escritos de Mandukya Upanisad e suas referências ao mantra Om.

A proposta é semelhar os conceitos de ambas as filosofias, para que, assim, torne mais clara a nossa percepção sobre as relações inerentes a música, percepção esta que na filosofia de Schopenhauer é bem presente e que carrega um peso metafísico muito importante, veremos no decorrer do trabalho. Não tenho a intenção de provar uma influência estritamente esclarecida entre os autores e as escrituras, mas, de formar uma possível completude entre as interpretações, e mesmo sustentar um alcance ontológico da música.

[…] Indo mais adiante, Schopenhauer diz que a música, a mais alta das belas-artes, estaria em um grau mais elevado na sua noção metafísica, seria, portanto, a música que carregaria o título de linguagem universal, que não poderia mais ser vista como representação, mas como expressão imediata da vontade. É o que mostra a passagem a seguir: “Visto que a música, diferentemente de todas as demais artes, não apresenta as Ideias ou graus de objetivação da vontade, mas a VONTADE MESMA imediatamente, explica-se daí que semelhante arte atue tão diretamente sobre a vontade, isto é, sobre os sentimentos, as paixões e os afetos do ouvinte, de forma que os intensifica rapidamente ou os altera.” (WWV II 510, p 537). A música se destaca por ser diferente de todas as outras formas de artes (como por exemplo, as classes artísticas expressas pela arquitetura, poesia e o drama trágico), ela está um grau mais interiorizante, paralela até mesmo à Ideia platônica, a música se dispõe como uma objetivação imediata da vontade.

[…] É interessante vermos como Schopenhauer produz uma metafísica sobre a música, quando ele compara as propriedades sonoras aos seus efeitos fenomênicos no mundo, isto é, o fenômeno do som é como representação da matéria, dos objetos, e até dos seres vivos, que enquanto propriedades auditivas, são objetivações da vontade. Podemos também notar, que a causalidade do som na filosofia de Schopenhauer se aproxima da dimensão do mantra Om, quando Schopenhauer diz: “Ainda teria muito a acrescentar sobre a forma como a música é percebida, a saber, única e exclusivamente por meio do tempo, com total exclusão do espaço, também sem influência do conhecimento da causalidade, portanto do entendimento: pois o tons provocam já como efeito a sua impressão estética, sem que retornemos à sua causa, como é o caso da intuição” – (WWV I 315, p. 308), lembrando o que na Mandukya Upanisad está escrito que o Om é o EU essencial (atman) e Brahman (realidade absoluta superior) ao mesmo tempo, que pertence ao tempo, mas que está fora do tempo (eterno), fora do campo mental, mas que poderíamos vivenciar essa experiência na prática. Notamos, dessa maneira, cada vez mais os atributos metafísicos presentes no som universal, e, arrisco a dizer, que poderíamos chamar aquilo que Schopenhauer chama de vontade, como aquilo que poderia ser considerado o Om, e que o tom fundamental, carregaria a mesma essência do mantra Om, mas, esta é somente uma suposição que não poderei comprovar neste momento, apenas compartilho a minha suspeita.

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