É engraçado como temos uma vontade quase incontrolável de dizer como as coisas deveriam ser feitas pelos outros. Mas, nesse exato lugar, não gostamos de estar (é preciso ter um espírito meio bobo e o humor aguçado para achar graça dessas coisas, mas vamos lá).

Odiamos quando nos dizem como fazer as coisas. “O meu jeito é o melhor jeito”, e, conforme o tempo passa, a minha experiência de vida pesa mais ainda na tentativa de prever os erros, tantos os meus quanto os dos outros.

Você já sentiu isso? “Me deixa fazer sozinho”, “Eu faço do meu jeito”, “Me deixa errar e aprender com meus erros”. Nós não precisamos de um locutor que narra as nossas ações em tempo ao vivo, que sugere melhores maneiras de fazer o que estamos fazendo.

Mas essa também é uma via de mão dupla, pois ao mesmo tempo que não gostamos disso, nós fazemos isso, muito, o tempo todo. Nós julgamos os outros o tempo todo, seus jeitos, seus defeitos, suas ações, suas crenças, formas de agir, de pensar, tudo, o tempo todo.

Nós até tentamos nos colocar no lugar do outro, mas parece que bem no momento que estamos julgando algo ou alguém, inverter o papel nem passa pela nossa cabeça.

Irônico né? Aquilo que mais odiamos nos outros é aquilo que mais reprimimos em nós. Quanto mais fazemos força para evitar algum erro e imperfeição nossa, quando vemos o outro cometendo o mesmo erro ou agindo parecido como já agimos antes, mais pula na nossa garganta a vontade de avisar para o outro: “Ei! Não faça assim!”. Logo, todo o nosso esforço para fazer algo que convém ao nosso jeito, quando o outro não faz com a mesma intensidade e atenção, ele está pecando ferozmente. Uma afronta ao seu jeito de ser.

Isso, meus caros e caras, é o Ego. É o nosso eu, nosso eu mais frágil. Ele está ali todo faceiro, coordenando nossas ações e reações. E nós poderíamos pensar: “Isso é inevitável!”, “Devo me calar então para tudo o que eu penso?”, “Não posso comentar mais nada daquilo que eu vejo?”, “Como eu posso falar de um lugar fora do meu Ego, se eu sou ele e ele está dentro de mim?”, etc… As questões nessa direção podem ir longe.

Isso é autoconhecimento. E não precisa  pós doutorado para aprender esse tipo de coisa, basta querer conhecer as respostas e investigar, as respostas estão disponíveis para todos.

É sabedoria de vida, saber humanizado, do povo da rua à classe A1+++, não importa se estamos descalços na areia, no asfalto, dentro de um iate, ou no septuagésimo andar de um prédio de terno e sapato, o conhecimento é das pessoas, é nosso, de gente, de gente como a gente. Evoluído mesmo é um lugar onde se tem diversidade e inclusão. 

Esse seria o verdadeiro feliz ano novo que nós desejamos todo ano uns aos outros, os valores de um novo tempo, de uma nova era (estranho que eu nem falei de tecnologias avançadas aqui né?).

Lógico que, conforme o tempo passa e estudos psicológico avançam, problemas como estes vem surgindo de diferentes modos, com diferentes nomes. Mas, ao meu ver, é aí que mora a maior confusão… não adianta dar nome e receitar remédios para que o problema se oculte, tampando o sol com a peneira. Essas situações são diárias e estão de acordo com o nosso estado de atenção, conscientes ou inconscientes das nossas ações.

Para superar/suspender o Ego é preciso mudança, mudar o nosso jeito de pensar, mudar o mindset, ser flexível, mudar interiormente. Não é querer mudar o outro, exigir mudança lá fora de nós, no exterior.

Autoconhecimento é sofrido, é viver nossos maiores desafios na pele, é depressão e desespero de não saber o que fazer, é sentir falta de energia para fazer as tarefas comuns e incomuns, pois tudo está confuso, embaçado. Não têm pílula mágica, não têm corta-caminho, atalho, é um processo, um processo de cura, de cura do nosso eu-ego-inferior-reprimido para um ser-novo-espontâneo-consciente (não tenho certeza se isso existe, mas para mim faz sentido pensar assim).

Aprender a agir de um lugar novo, puro, consciente, com atenção, com audição apurada e ativa, livre, solto, sem se prender nos distúrbios da mente, nas distrações do julgamento. O lugar de um ser-novo é a resposta para os problemas do Ego. O ser-novo é meditativo.

Todo mundo (sim todos nós) temos vontade de falar, POUCOS são os que querem ouvir, mas mais raro ainda, são os que sabem ouvir.

E cuidado! Pois o ego é carente e quanto mais atenção você der para ele, mais ele vai querer sua energia, sua atenção, seu cuidado. As pessoas inconscientemente desejam falar com aqueles que agem a partir de um ser-novo, pois é magnético para elas, é como dar açúcar para criança, droga para um adicto, é bom, prazeroso, carinhoso, apaixonante, letal.

Letal porque pode esgotar a nossa energia, drenar nossa capacidade de pensar e agir com qualidade, e, a partir daí, pode virar aquela bola de neve de ação e reação, impulsivo e primitivo.

Falando assim até parece que o mundo é uma disputa de energias, entre sugadores e doadores, “quem leva a melhor?” Essa pergunta já está pulsando o aviso pop-up de cautela que nós deveríamos ter, pois quando pensamos assim, estamos tentando já de cara vencer uma disputa que não têm vencedores, a trama é interna, como ganhar de você mesmo? É paradoxal, portanto, não leva a lugar nenhum. Não é a pergunta certa a se fazer. Temos que cuidar para fazer as perguntas certas, pois respostas virão, agora, será que respondem o verdadeiro problema? Ou apenas estamos dando voltas, caminhando em círculos?

Não têm problema tatear o real problema, mas é preciso ter coragem para mergulhar fundo nele, porque ficar na superfície é ficar no eu-ego-antigo.

Para finalizar essa pequena história, vou contar um segredo, que eu acredito que só alguns vão conseguir se conectar com ele, pois para desvendá-lo é preciso já ter passado por isso, então, quem já passou, já notou que tudo isso é uma chave do processo interno, do espiral da vida, e é tão simples que parece quase óbvio, mas, quem ainda não notou e não sentiu o poder das portas do autoconhecimento se abrirem, esse texto pode estar meio confuso. Contudo, espero que também curioso e despertador.

O segredo, galera, é o silêncio.

K.

PS: Quem sabe mais para frente eu escreva mais sobre o segredo do silêncio? Eu gostaria que você comentasse sobre isso comigo, o que você achou do texto de agora? Gostaria de ler mais conteúdos como este?

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K.

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Anônimo

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Ana Munzner

Kevin, iniciei a leitura do seu texto algumas vezes, reiniciei… e hoje, terminei…
Talvez porque era o momento mais propício…
Nessa quarentena, o silêncio parece ganhar mais espaço naturalmente. E o convite é pra olhar pra dentro, entrar bem no seu quadrado, porque se ficar distraído com o que está fora, o risco é de entrar na paranoia.
Muito bom ler seu texto hoje! Grata pela reflexão e profundidade.

Lina

Parabéns Kevin!! Continue escrevendo pra gente continuar refletindo 🙂

Rafael Giuliano

Olá K; texto interessante, de reflexão pertinente para o momento.

Quando você falou das “portas do autoconhecimento” até pensei que fosse fazer referência ao livro “Portas da Percepção”, de Aldous Huxley; mas este tema fica para um próximo café.

Dos argumentos do texto, um ponto que me chamou a atenção, aqui e noutros diálogos sobre o tema, é a ideia de que o “autoconhecimento é sofrido”. No processo terapêutico aprendi que o sofrimento percebido pelos pacientes diz respeito ao momento pré-descoberta, aquele “limbo” em que tudo parece nebuloso; pois quando passamos a enfrentar medos e angústias com consciência o sentimento é de libertação e empoderamento, mais que a sensação de dor. Proponho esta reflexão como argumento de estímulo à jornada!

Que venham mais textos como este, e além, em 2020!

Com apreço,
Rafael Giuliano

Autoconhecimento é sofrido, é viver nossos maiores desafios na pele, é depressão e desespero de não saber o que fazer

Kimberly

Adoro esses tipos de texto que parecem uma novela, com continuações que nos deixam instigados a querer ler mais. Parabéns!

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