Agora chego a uma conclusão para todos nós. A meu
ver, a saúde crônica é o caso especial com o qual todos nós
estamos confrontados enquanto seres humanos. Todos nós
devemos tratar de nós mesmos. A meu ver, trata-se do trági-
co destino de nossa civilização moderna o fato de o desenvol-
vimento e a especialização do ser-capaz-de-fazer científico e
técnico terem paralisado nossa força para o autotratamento.
Te mos de reconhecer isso no tão transformado mundo atual.
Eu sei bem estimar o papel desempenhado pela medicina mo-
derna. Ela nem sempre trata apenas de curar, mas, freqüen-
temente, de manter a capacidade de trabalho do paciente.
São coercitividades de nossa existência em uma socieda-
de industrial, as quais nós todos temos de aceitar. Mas o que
vai além disso é o tratamento que nós mesmos devemos nos
aplicar, esse auscultar, esse escutar-se silenciosa e atentamen-
te e o preencher-se com o todo da riqueza do mundo em um
momento imperturbado e não afetado pelo sofrimento. São mo-
mentos nos quais se está o mais próximo possível de si mes-
mo. Essas também são formas de tratamento, e estou cada
vez mais convencido de que se tem de fazer tudo para, peran-
te o significado da cura, se elevar o valor de tal prevenção em
nossa sociedade industrial. Com o tempo isso será decisivo
para nós, se devermos nos adequar às cambiantes condições
de vida do mundo tecnicista e se aprendermos a reavivar as
forças com as quais se conserva e se recupera o equilíbrio, o
apropriado, o que é para mim apropriado, o apropriado para
cada um.
A ciência e sua aplicação técnica nos conduziram a uma
dominação do saber em grande escala e a situações-limite
que acabam por se voltar ofensivamente contra a natureza.
Ao lado desse saber e ser-capaz-de-fazer, com o qual nos de-
frontamos com o mundo como um objeto a ser dominado
e como um campo de resistência – objeto é resistência, cuja
ruptura e domínio, através do saber, é nossa tarefa -, o mun-
do nos oferece ainda aquele outro aspecto, o qual na filosofia
deste século, com uma expressão introduzida por Husserl,
designamos “o mundo da vida” (die Lebenswelt). Quan-
do, na minha juventude, entrei para o mundo da filosofia, o
fato da ciência era a última palavra e constituía a base da as-
sim chamada teoria do Conhecimento. As coisas mudam e
hoje refletimos com mais consciência sobre o fato de que
a ciência metódica estabelece para si seus limites mediante
seu ser-capaz-de-fazer. É certo que ela sempre estará buscan-
do superar esses limites. Não pode haver aqui uma demarca-
ção obscurantista de fronteiras. No entanto, parece-me exis-
tir ainda outros limites que devemos considerar. Assim, pode
bem ser afirmado que nenhuma pessoa, que se veja apenas
como um “caso”, pode ser realmente tratada e nenhum médi-
co pode ajudar um ser humano a superar uma enfermidade
grave ou leve, com a qual ele tem de lidar, se esse médico em-
pregar apenas o ser-capaz-de-fazer rotineiro de sua especia-
lidade. Em ambas as perspectivas somos parceiros de um
mundo-da-vida (Lebenswelt) que nos carrega. E a tarefa, co-
locada a todos nós como seres humanos, é, a saber, a de e n-
contrarmos nosso caminho nesse mundo-da-vida e aceitarmos
nossas verdadeiras condicionalidades. Essa via contém para
o médico a dupla obrigação de unir a sua virtuosidade alta-
mente especializada com a parceria no mundo-da-vida.
Referência:
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