Trechos relevantes:

Reclaim é a palavra usada por Isabelle Stengers e Philippe Pignarre em seu livro “Capitalism Sorcery – Breaking the Spell” para descrever as práticas que quebram o feitiço que está estabelecido por trás do véu que hoje chamamos de capitalismo.  Um capitalismo feiticeiro que se mostra como um sistema que se divide e que dá a falsa ideia de que podemos fazer escolhas dentro dele, mas que na verdade representam ruas sem saída, quando lança suas alternativas infernais (quando se é colocado uma questão como sendo uma necessidade que evidencia a realidade mas que está presa à uma armadilha do capitalismo, como uma bolha hermeticamente fechada nela mesma e que não deixa nada diferente escapar). Chamar o capitalismo de capitalismo já nos faz cair em armadilhas desse sistema organizador da vida social e econômica que mobiliza as relações humanas. Um sistema bruxo, que enfeitiça e nos prende em uma grande ilusão criada pelos domínios do poder, que hoje se apresenta de forma descentralizada e globalizada, que nos faz pensar em progresso e este como sendo a única e melhor opção sempre, que exige hábitos incontestáveis. Feiticeiro porque encanta e, seria bom, então, saber nos proteger.

Isabelle Stengers e Philippe Pignarre juntos reativam um chamado, um grito: “Precisamos de gente que pensa” e a forma que nos é apresentada esse chamado, chama a atenção, pois se dizem representantes de um acontecimento na cidade de Seattle, onde havia uma comunhão de desejos e de povos diferentes, por trás de uma visão: “um novo mundo possível”. Dá-se um certo espanto porque está sendo cobrado um reposicionamento do mundo, uma nova forma de olhar para a história. Era preciso olhar para o passado e fazer dele um novo passado, transformá-lo, de maneira que se alterasse o próprio passado, presente e futuro. O chamado para um novo mundo possível é um convite para reativarmos o tempo, que não poderia já ter sido estabelecido e dado como entendido, como se já pudéssemos virar a página e guardá-lo numa estante, não, era preciso não somente aprender com aquele espaço no tempo, como da forma que possamos nos conectar em diferentes tempos e dar também diferentes caminhos para aquele mesmo ponto no tempo, uma nova realidade tinha que ser construída com aqueles ensinamentos, uma herança para nós foi deixada e era preciso tornar-se filho dele.