O processo do desenvolvimento natural como base da educação rousseauniana na obra Emílio
TÓPICOS ESPECIAIS EM FILOSOFIA E EDUCAÇÃO I - Período Especial 1 / 2020 - UFPR
Trechos relevantes:
Este trabalho se ocupará com as questões contidas nos capítulos intitulados de livro I, II, IV e V da obra Emílio, escrito pelo filósofo Jean Jacques Rousseau. Bem como, abordaremos diferentes fases da educação humana, passando pela fase da infância, da adolescência e da adulta. Ao final, faremos um breve relato dos diferentes papéis atribuídos pelo filósofo aos gêneros masculino e feminino, apresentados na obra. A pretensão será conciliar esses diferentes momentos da educação humana junto ao processo natural de aprendizagem, que será aqui encarado com o principal fator de desenvolvimento do ser humano, um caminho que deverá ser seguido para atingir o seu melhor potencial. É, desse modo, ao espelho da natureza, que Rousseau enxerga como a educação deverá acontecer, ou seja, fundamentada na vida prática e natural do homem.
[…] É interessante observar, como mesmo após 262 anos passados da escrita da obra Emílio, o debate inserido nela ainda se mostra extremamente atual, citando desafios que ainda não conseguimos superar enquanto homens, principalmente na sua relação de exploração com a natureza.
[…] Rousseau deixa claro que ele têm um entendimento específico quando se refere ao termo “natureza”, o termo é, visto então, como algo que possui uma força geradora de vida, que cria uma espécie de ordem natural do mundo e que impõe um certo tipo de hábito intrínseco aos seus elementos, que, portanto, rege todo o seu desenvolvimento. É como se a natureza viesse já programada através de uma consciência superior, que sabe o que e como fazer o melhor movimento para a vida existir e acontecer.
[…] Quando bem preparado desde a sua infância, o homem, ao invés de se comparar com outrem, a partir do momento que começa a participar mais da vida em sociedade, não se apega aos caprichos e julgamentos de superioridade ou inferioridade, na relação que ele sente às outras pessoas, mas, ao contrário, dispõe-se do amor por si próprio, e isso é o que dará origem às suas relações afetuosas e suaves, pois, não têm tanta necessidade de se comparar e não se preocupa com a opinião dos outros. Quanto mais necessidades o homem passa a ter de precisar dos reconhecimentos externos, maior é a degradação da humanidade natural que ele possui […]
[…] Há também, um ponto de atenção feito pelo autor, existe um grande apelo na filosofia de Rousseau para que a instrução aconteça através do exemplo, isto é, o ensino deve ocorrer através daquilo que se pode demonstrar pelas ações, pela simbologia dos gestos e pela preparação do ambiente. O filósofo argumenta que pelo discurso, o seu pupilo e os homens em geral, nunca demonstraram aprenderem as lições efetivamente e que, por isso, o falatório torna-se supérfluo perto daquilo que se pode ver com os próprios olhos e se mostrar com as próprias mãos. A verdadeira sabedoria deve ser preservada, deve ser pronunciada apenas nas horas certas e em poucos momentos. Segundo Rousseau, quem muito fala, pouco sabe. É assim que o autor quer ver seu pupilo, sendo um homem de poucas palavras, mas com muita instrução […]
[…] É bastante perceptível que a educação feminina rousseauniana, se fosse comparada com as perspectivas feministas atuais, sofreria bastantes críticas, dado que, na época em que escreve o autor, o patriarcado talvez nem fosse ainda colocado em questão, sobretudo, onde o autor vivia. Essa é uma especulação que ouso colocar aqui em questão, pois acho importante conseguirmos investigar o que Rousseau está pretendendo dentro da sua filosofia, quando diz algo sobre a educação das mulheres. Rousseau baseia-se muito nos costumes, isto é, ao modo como se costuma viver a vida e da percepção cultural a qual ele está inserido, principalmente, da cultura francesa, tanto a urbana quanto a rural. É isso o que ele têm em vista na maioria da vezes quando está tratando da posição feminina na sociedade, comparando suas vestimentas, seus prazeres, suas obrigações, no lar, na sociedade, na sua maneira de agir […]
[…] No entanto, talvez o reconhecimento feminino não seja tão necessário para agradar aos homens nos dias de hoje e com certeza esta consideração soaria ofensivo nos ouvidos das mulheres despertas. O reconhecimento deve servir para que as mulheres sejam valorizadas por suas próprias qualidades e por si mesmas, para mostrar que são capazes de realizar qualquer trabalho tão bem quanto qualquer outro homem, como qualquer outro ser humano. Visto assim, é aqui que apresentamos um embate ao modo como Rousseau enxerga a educação feminina a exemplo da natureza, salvado pelos registros históricos de cada época.
[…] O homem deveria, desde muito cedo, conquistar os seus desejos por sua própria força de vontade e em todos os momentos em que lhe privam o sofrimento de conseguir aquilo que ele quer, estão na verdade, causando-lhe um malefício e mal acostumando-o para as situações da vida. Entretanto, o mais comum, é ver pessoas que, quando se colocam no lugar de tutores de alguém, sem ter o devido esclarecimento para tal, tentam impedir que o seu pupilo sofra, entregando-lhe de graça aquilo que se demora por conquistar. O que faz com que futuramente o pupilo acabe por se machucar mais ainda por não saber lidar com as situações difíceis. Esse seria um dos grandes problemas do homem civilizado, que se torna fraco e incapaz de realizar aquilo que a vida pode lhe oferecer, pois sempre está à espera de uma solução rápida e sem esforço. E, é desse mesmo modo que, quando a solução não chega, os mimados não se dão nem o trabalho de ir buscá-la, afastam-se dos problemas e os ignoram, pois nunca souberam resolvê-los por si mesmos. Não ensinados a procurar novos caminhos, acomodam-se com a vida fácil e morrem lentamente sem terem vivido.
O processo do desenvolvimento natural como base da educação rousseauniana na obra Emílio.pdf
TÓPICOS ESPECIAIS EM FILOSOFIA E EDUCAÇÃO I - Período Especial 1 / 2020 - UFPR
Outros artigos:
-
Comentário às páginas 523 a 537 da obra “A individuação à luz dos conceitos de forma e informação” de Gilbert Simondon
TÓPICO ESPECIAIS EM TEORIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS I
-
Uma química lucreciana?
FILOSOFIA DA NATUREZA I
-
Raça, um tema para a bioética?
BIOÉTICA
-
Estudo do termo desconstrução por meio da Filosofia de Derrida.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA IV
-
Seria possível uma volta para casa?
TEORIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS I
-
Comentários sobre “um mundo novo possível”
FILOSOFIA POLÍTICA V
-
Aspectos envolvidos no ensino e na aprendizagem de Filosofia
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
-
A metafísica da música na filosofia de Schopenhauer com possíveis aproximações ao pensamento tradicional indiano Mandukya Upanisad e suas referências ao mantra Om.
TÓPICOS ESPECIAIS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA II
-
O processo do desenvolvimento natural como base da educação rousseauniana na obra Emílio
TÓPICOS ESPECIAIS EM FILOSOFIA E EDUCAÇÃO I