Trechos relevantes: 

“A individuação à luz dos conceitos de forma e informação” é uma obra do filósofo francês Gilbert Simondon publicada originalmente em 1958. Nesse livro, Simondon propõe uma teoria da individuação, indicando-a como um processo que ocorre não apenas em seres humanos, mas que está presente em todos os seres, desde partículas subatômicas até organismos complexos. Segundo Simondon, a individuação ocorre por meio da passagem de um estado pré-individual, no qual o ser é indiferenciado e está em relação com seu ambiente, para um estado individual, no qual o ser é autônomo e se diferencia do ambiente.

–

Simondon utiliza os conceitos de forma e informação para explicar a individuação. Para o autor, a forma é o que diferencia o ser do ambiente, enquanto a informação é o que permite a comunicação e a troca entre o ser e o ambiente. A forma não é estática, mas sim um processo contínuo de diferenciação e integração, no qual o ser se adapta e se transforma em relação ao ambiente. A informação, por outro lado, é o que permite que o ser se comunique e se adapte ao ambiente, adquirindo novas informações e conhecimentos, atestando, dessa forma, as potencialidades pré-individuais dos seres. Assim, a individuação seria o processo pelo qual o ser se diferencia do ambiente, ao mesmo tempo em que se integra a ele por meio da troca de informações.

–

O processo de individuação, segundo Simondon, não é linear ou determinístico, mas um processo complexo, que envolve uma série de etapas interconectadas, que se apresenta em diferentes níveis. O autor identifica quatro tipos de individuação: física, vital, psíquica e psíquica-social.

–

Para Simondon, a individuação psíquica e psíquica social são processos que estão em constante interação e influência mútua. Um indivíduo só pode se tornar verdadeiramente autônomo e independente se tiver também uma forte conexão com seu meio social e cultural, e uma identidade social que seja compatível com sua identidade psíquica.

–

Após apresentar a ideia da individuação à luz dos conceitos de forma e informação, é possível compreender as relações entre o ser técnico e o ser humano no processo de individuação. De acordo com Simondon, a individuação não se restringe apenas aos seres vivos, mas também se estende aos seres técnicos, ou seja, às máquinas.

–

Simondon argumenta que a técnica é um processo de individuação tanto quanto os processos biológicos ou psicológicos. Assim como o organismo vivo se diferencia do ambiente por meio de processos de adaptação e seleção natural, a técnica se diferencia do ambiente por meio de processos de invenção e inovação. A criação de um objeto técnico envolve uma série de etapas que vão desde a concepção do projeto até a sua realização concreta, passando pela escolha dos materiais e das técnicas de produção. Cada etapa desse processo é um momento de individuação, em que o objeto vai se diferenciando do ambiente e adquirindo uma existência autônoma.

–

É importante ressaltar que a individuação técnica não deve ser vista como uma ameaça à individuação humana. Ao contrário, a técnica pode ser vista como uma extensão das capacidades humanas, que amplia as possibilidades de ação e transformação do mundo. A individuação técnica e a individuação humana são processos complementares, que se articulam de forma complexa e dinâmica na história da humanidade.

–

Ao mesmo tempo, Simondon critica a forma como as ciências humanas foram construídas, caracterizadas por uma fragmentação em diversas disciplinas isoladas, e a falta de um diálogo transdisciplinar. Ele propõe que as ciências humanas devem superar essa fragmentação e buscar uma abordagem mais abrangente para a compreensão da individuação.

–

[…] a teoria da individuação de Simondon contribui significativamente para a filosofia contemporânea, sua abordagem holística e interdisciplinar pode fornecer inspirações valiosas para várias áreas do conhecimento, incluindo a filosofia, ciências humanas e a tecnologia.